sábado, 27 de março de 2010

Condenação apenas oficializada

Chegou ao fim o julgamento de mais apelo midiático dos últimos anos. A exposição do caso na mídia foi exacerbada desde o dia do fato até o anúncio da sentença lida pelo juiz do caso, que pasmem, foi anunciada através de autofalantes para o público que aguardava do lado de fora do tribunal.
Aquele monte de gente se espremendo por um espacinho diante do tribunal ou gente que dormia na calçada para pegar um lugarzinho dentro da sessão lembrou a espera pelo anúncio dos números da megasena ou show de rock.
Para mim era óbvio que o casal Nardoni seria considerado culpado, não exatamente pelas provas, mas pela aura de culpa que rodeava-os. Desde o início a mídia de maneira geral propagou que ambos eram culpados e sempre deu muitíssimo espaço para a versão da polícia em detrimento da histórinha do casal.
Se os Nardoni por algum motivo qualquer fossem inocentados, a mídia brasileira passaria a maior vergonha e crise de sua história porque 99% dos veículos de comunicação teriam de se retratar e provavelmente pagar boas idenizações por danos morais aos Nardoni.
É óbvio que o caso provocou comoção nacional bem como outros do tipo como o da Suzana Ritchofen, o crime brutal do "Champinha" ou do garotinho que foi arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro. Mas, tanto a ata dos Direitos Humanos quanto a própria Lei de Imprensa defendem que os veículos de informação sejam imparciais e considerem a todos inocentes antes que sejam condenados pela justiça.
Mesmo sendo óbvio baseado nas provas que a polícia juntou de que não havia terceira pessoa alguma naquele apartamento, não há como provar quem foi que no fim matou a menina,pode ter sido os dois juntos ou apenas um dos dois.
A prova cabal não existe, existe apenas a suposição já que ambos os réus jamais confessaram o crime.
Mas independente disso, a imprensa têm de se manter afastada do papel de julgadora pois este não nos cabe. O que nos cabe é apresentar a versão da polícia com todos os detalhes e a versão dos acusados com todos os detalhes, apontando com clareza os erros e contradições de ambas para que nosso leitor, ele sim, julgue em qual prefere acreditar e qual tem mais chance de ser real.
O trabalho da imprensa não é julgar mas sim apresentar de maneira eloquente os fatos e suas considerações para o público julgá-los e analisá-los.
Mas não foi o que aconteceu nos últimos dois anos, o casal sempre foi apontado como culpado por jornalistas e principalmente pelos comentaristas de programas que descambam para o sensacionalismo voraz e insano.
Defendendo o chamado "efeito CNN" mostrando segundo a segundo qualquer movimentação inútil e insignificante no local dos fatos, repetindo milhares de vezes a mesma história e abusando das imagens invasivas.
Eu sinceramente acredito que o casal Nardoni é culpado, tanto que a justiça assim os condenou, mas nem por isso posso admitir que direitos básicos de ética da imprensa sejam ignorados apenas pelo fascínio que o trágico causa sobre povo.
O criminoso tem de pagar pelo crime que cometeu sim e isso tem de ser noticiado se causa comoção nacional o crime praticado, mas o que não pode jamais acontecer é querer punir o criminoso além do que a justiça determina, ou seja moralmente através da esculhambação midiática!!
Se não é para seguir os códigos de ética, ou a constituição de que vale fazer faculdade de comunicação então?! Qualquer recém saído do terceiro colegial poderia exercer a função de jornalista ou trabalhar na imprensa se é para esse tipo de cobertura espalhafatosa se repetir a cada novo caso que cause comoção na população.

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