terça-feira, 19 de janeiro de 2010

São Paulo - Piauí

Olá pessoal, acabaram as férias e estou de volta para criticar, comentar e refletir acerca do mundo em que vivemos e das relações que nele existem, lançando o olhar analítico e jornalístico.
Há muito o que comentar nesses apenas 19 dias da nova década que se iniciou, mas abordarei acontecimentos como o desastre no Haiti nos próximos posts.
Quero iniciar comentando um pouco sobre uma viagem que fiz entre São Paulo e a pacata cidade de Massapê do Piauí.
Foram 11 dias, mais de 5 mil quilômetros rodados numa van, 5 Estados atravessados e muitas histórias para contar.
Viajar por terra é sempre interessante porque permite a você conhecer de perto não só a paisagem, mas as pessoas que ali moram à beira da rodovia e também conhecer mais de perto suas vidas.
Pela janelinha do aviaõ tudo é pequeno e insignificante, pela janela do carro tudo fica mais claro e o ganho cultural acaba sendo bem maior.
Nessa viagem pude conhecer de perto a vida dura do interior Nordestino. Ainda que na cidade de Massapê localizada a mais de 350 km da capital Teresina, não exista a miséria extrema nem as cenas de filme do sertão com enormes desertos onde só existe o tal do xiquexique, espécie de cacto brasileiro.
Não, nessa região pela qual passamos existe água e vegetação em demasia o que falta porém é a vontade política. A maior parte das casas do interior piauiense não possuem água encanada, o que força a populção a depender dos carros pipa, de buscar água em poços artesianos ou aguardar a água literalmente cair dos céus e encher as cisternas na época das chuvas. Essa aliás foi a única ação do Governo para ajudar esse povo esquecido, construir algumas cisternas...
Mas talvez exista um porquê desse descaso. Já parou para pensar que em São Paulo que vive tendo chuvas o ano todo ainda assim falta água em diversas regiões, como no litoral e na grande São Paulo na região de Caieiras, Francisco Morato e Fanco da Rocha? Agora pense que já falta água em São Paulo onde existe muitos rios e chuva porém 95% da populaçao possui água encanada e boa parte do resto do nordeste não. Então pense, e se realmente todo o cidadão nordestino e nortista tivesse acesso a água encanada, não haveria realmente demanda para atender a todos, já que conforme expliquei, sem essa demanda já falta em São Paulo por exemplo. Portanto talvez seja uma das explicações para os diversos governos não se esforçarem muito para acabar com a sede do povo interiorano.
Aliás no Nordeste você percebe como aqui nos grandes centros reclamamos muito de tantas coisas insignificantes. Claro que todos temos problemas e dificuldades, mas as do povo de lá fazem jus ao básico. Enquanto aqui você pode reclamar de ter de tomar ônibus em pleno trânsito para chegar em casa ou de que o sinal da internet está ruim, lá o povo além de trabalhar o tanto que aqui volta a pé para casa e ainda tem de buscar a água do banho no balde carregado na cabeça.
Acompanhei essa vida dura de perto, e compreeendi com facilidade o porquê do êxodo nordestino rumo ao sudeste ao longo das últimas décadas. O sonho de todo jovem de lá ainda hoje é vir para São Paulo ou Rio de Janeiro e deixar a vida pobre e abastada para trás.
Viajar para o Sudeste é o objetivo de vida de quase todos os jovens nordestinos, algo parecido com os jovens de classe média alta que aqui no Sudeste têm como objetivo morar em Nova York ou na Europa.
Para o povo de Massapê, vir para cá significa abandonar tudo o que de ruim existe na região em que vivem, mal sabem que vindo para cá sem estrutura para se manter só trarão mais problemas para si mesmos e para a cidade num todo que já está superlotada , basta pegar a Marginal Tietê em qualquer horário durante o dia para perceber.
Por falar nisso, as rodovias são um capítulo à parte nessa história. Ao mesmo tempo que sinuosas e perigosas revelam paisagens belíssimas com serras, cachoeiras, campos enormes cheios de vegetação variada. Me chamou atenção na Bahia diversos rios de areia que econtrei pelo caminho. Na placa aparecia escrito ponte sobre o "rio tal" mas sob a ponte só havia areia.
Chama atenção também o tamanho colossal do Rio São Francisco, pelo qual passei na divisa entre Juazeiro-BA e Petrolina-PE. Na Bahia aliás foi onde encontrei as piores estradas, nos trechos que abrangem a BR-407.
O trecho entre Capim Grosso e Senhor do Bonfim é um dos piores, em certas partes da pista próximo a pequeníssima Richaçao do Jacuípe, a rodovia federal simplesmente não tinha nenhum tipo de sinalização, nem placa, nem sinais retrorefletivos muito menos o básico que são as faixas pintadas no asfalto. Não, não havia nada, é uma pista totalmente limpa.
Por isso me causou estranheza o fato de ter visto em todo o Nordeste, passando pelas BR 407 e 116, apenas um acidente. Enquanto que no trecho da Fernão Dias sob concessão da OHL, onde por ter diversos pedágios a rodovia é super bem cuidade e sinalizada, possui os sentidos divididos por canteiro e duas pistas para o tráfego, as vezes até três, tanto na ida quanto na volta foram pelo menos uns 12 acidentes, com carros e caminhões tombados às margens da rodovia. Um amostra da irresponsabilidade dos motoristas que por estarem numa pista melhor acham que podem abusar da velocidade.
Mas enfim, o espaço é curto e as histórias são muitas, por isso durante o ano postarei mais de toda a experiência que adiquiri nessa jornada.
Quero apenas destacar o que eu trouxe de volta dos lugares por onde passei e das pessoas que conheci: Primeiro que devemos dar muito valor a vida que possuímos no Sudeste pois se aqui está ruim tenha certeza de que em outros lugares está bem pior; segundo que é possível sim viver sem celular e internet e ainda ser feliz; terceiro que o povo brasileiro é muito trabalhador, sofrido e mesmo assim alegre e receptivo, apenas nas grandes metrópoles encontramos pessoas desconfiadas e fechadas para a sociedade, no resto do país as pessoas querem dividir não se esconder atrás dos muros de suas casas sem nem ao menos saber quem são os vizinhos como acontece aqui nos grandes centros. Em quarto que o Governo não faz nada para melhorar a vida do seu povo, pois no Nordeste não falta água, aliás lá tem de sobra em açudes e nos diversos poços, falta é vontade política de levar a água a quem precisa.
Enfim, o que ficará marcado para mim dessa viagem é aquele slogan de publicidade do Ministério do Turismo, " o melhor do Brasil é o brasileiro", viajando esses 5 mil km atravessando São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Piuaí pude perceber que essa frase exprime com clareza e verdade o olhar de quem viaja por esse país.

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